A Taberna

quinta-feira, 19 de novembro de 2015


"Endoidou", "isto não é um presidente, é um gângster", "discurso miserável de um miserável presidente", "este presidente é mesmo foleiro", "provinciano", "chefe de fação", "torpedo", "corifeu de lamúrias", "o Cavaco", "nada, zero, inútil, traidor, autocentrado, calculista, contraditório, que é formalmente presidente da República".

O PS, da invariavelmente proclamada ética republicana - pobre referência conceptual - vem tratando assim, rigorosamente, o chefe de Estado constitucionalmente representante da República, garante da independência nacional, da unidade do Estado, do regular funcionamento das instituições democráticas e Comandante Supremo das Forças Armadas.

Mas António Costa, entrevistado esta semana na RTP com ar chumbado e queixo trémulo, achou normal, a propósito da situação política nacional, mostrar-se "chocado com      a agressividade verbal que tem sido utilizada", traduzindo "um clima de crispação que não contribui em nada para aquilo que é necessário hoje na sociedade portuguesa".

Sem "açaime", os operacionais da linha da frente do PS dedicam ao presidente da República a mesma solenidade institucional que concedem na taberna da terra aos responsáveis pelos incidentes futebolísticos da semana.

Mas António Costa sente-se agastado, desolado, destroçado, porque Pedro Passos Coelho, impedido de ser primeiro-ministro apesar da vitória do PSD e do CDS nas urnas, reclama condições para submeter a votos a usurpação do poder que o PS tenta, contra a vontade da maioria dos eleitores portugueses.

A António Costa nem sequer resulta estranho querer governar sozinho, em minoria, relegando para a Oposição a maioria que venceu, invocando um acordo parlamentar feito de nada. No essencial, BE e PCP só se comprometem a inviabilizar moções de censura do PSD ou do CDS e a reunir, que é como quem diz, conversa. E consegue manter-se impávido nos apelos à "postura responsável" de Paulo Portas e Pedro Passos Coelho, argumentando que "o que é essencial é Portugal não desperdiçar o fator de estabilidade política", depois de na campanha eleitoral ter assumido que o PS votaria contra o próximo Orçamento do Estado, mesmo sem lhe conhecer o texto.

Em tempos já de si difíceis, António Costa é responsável por uma das maiores crises políticas vividas em Portugal desde o 25 de Novembro. E para lá da conflituosidade escusada, trouxe ao regime democrático níveis absolutamente insuportáveis de cinismo.


A evidência não decorre de nenhum "ressabiamento nervoso da Direita". É mesmo constatação de quem tem vergonha na cara.

Artigo de Nuno Melo no Jornal de Notícias

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