O Candidato do PS

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Por Nuno Melo
Todos os candidatos presidenciais são independentes, mas alguns são mais independentes do que os outros. Sampaio da Nóvoa é o candidato do PS. O antigo reitor pode invocar o passado e o percurso, jurar-se afastado de António Costa e até que só tem uma vaga noção de onde fica o Largo do Rato. Os sinais estão todos lá. E só não os vê quem não quer. Foi no Congresso do PS que Sampaio da Nóvoa esteve e discursou em novembro de 2014. Foi a António Costa que fez todos os elogios, de cravo na mão. Foi de socialistas que recebeu os aplausos enquanto dizia "não quero perder Portugal, nem por silêncio nem por renúncia". Foi quem esteve do lado de Mário Soares, Jorge Sampaio, Manuel Alegre e António Costa na tomada de posse de Fernando Medina como presidente da Câmara de Lisboa. E é o discurso do PS que clona, de cada vez que diz alguma coisa ao país.

O problema é que restringindo-se a uma fação, Sampaio da Nóvoa afasta-se de todos os outros, que tendo em conta a natureza do cargo que deseja, seria suposto também querer representar. Pior do que tudo, antecipa-se como um risco que Portugal não pode correr.

Na "Grande Entrevista" da RTP Informação, assumiu que se fosse presidente da República no verão de 2013 teria demitido o Governo e convocado eleições. Não se tratou de uma declaração emocional feita há dois anos, em cima de especulações possíveis, na falta de dons premonitórios sobre o que se passaria. Foi uma afirmação pensada, apesar das circunstâncias de um país que superou muitas das dificuldades, exatamente porque o Governo se manteve em funções. Desde 2013, o défice diminuiu, o desemprego desceu consistentemente, o crescimento evoluiu positivamente, as exportações dispararam, a balança comercial equilibrou-se, a confiança dos consumidores cresceu, o investimento aumentou, o turismo bate todos os recordes e a execução dos fundos comunitários, com exemplo no PRODER, atingiu valores próximos dos 100%. Portugal, é sabido, cumpriu com sucesso o ciclo de ajustamento. A troika foi embora e o Governo deixou de estar condicionado aos ditames trimestrais de funcionários do FMI, do BCE e da CE.

Mas ao candidato Sampaio da Nóvoa, isso não interessa nada. Talvez inspirado no apoio pessoal de Vasco Lourenço, assumiu que no que dependesse de si, teria optado pela crise política que determinaria um novo resgate e o prolongamento da humilhação da intervenção externa. Pena que não ponha os olhos na Grécia do Syriza de sua maior simpatia, que acaba de entrar em recessão.

Mesmo querendo dizer algumas coisas simpáticas para socialista ouvir, não havia necessidade.

Retirado de http://www.jn.pt/opiniao/default.aspx?content_id=4566689

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