O Declínio da Europa

terça-feira, 14 de julho de 2015

Por António Monteiro de Castro

Vários e preocupantes são os sinais que o velho continente europeu tem vindo a emitir denunciando um afastamento pro­gressivo dos princípios que estiveram presentes na sua génese e na consolidação dos seus valores civilizacionais.

De facto, na matriz da civilização ocidental estão bem presentes os sinais da cultura grega, salva e transportada até nós sobretudo pelo incansável trabalho dos monges ao longo dos séculos.
Bem presentes estão também os ensinamentos do povo hebraico, condensados nos livros milenares do Antigo Testamento e transmitidos aos europeus ao longo dos séculos.

Contudo, importante presença na construção da sociedade europeia são, sem margem para dúvida, os valores do Cristianismo difundidos e consolidados com o sangue de muitos mártires ao longo dos séculos, com particular incidência nos primeiros tempos da era cristã e com particular veemência na capital do Império Romano – Roma.

Pedro, o príncipe dos Apóstolos e. Paulo, o Apóstolo dos gentios, são as grandes referências da fundação e da propagação da doutrina de Jesus Cristo, que regaram com o sangue derramado a raiz desta árvore de Salvação da Humanidade.

Embora o cristianismo não possa ser considerado uma religião europeia, foi na Europa que recebeu a sua marca cultural e intelectual historicamente mais eficaz, permanecendo por isso, especialmente ligado à Europa.

Tal como os caminhos lançados pelo Império Romano permitiram a sua implantação em toda a Europa, também os Descobrimentos, levados a cabo sobretudo por Portugueses e Espanhóis, contribuíram para a sua divulgação pelos quatro cantos do mundo.

É verdade que existe hoje um moralismo assente em palavras como justiça, paz, respeito, conservação da natureza, etc.., que evocam valores morais que todos consideram essenciais, mas que aparecem entendidos como uma pretensão dirigida aos outros e não assumidos como um dever pessoal na nossa vida quotidiana. 

É um moralismo político despido de Deus, baseado no cálculo, em que é o cálculo das consequências que determina aquilo que convém considerar moral ou não.

É a progressiva imposição da cultura iluminista-laicista na Europa que tendo tido na verdade o mérito, de em determinado período da história, ter reposto os valores originais do Cristianismo e ter devolvido à Razão a sua própria voz, tem tentado afastar Deus da vida do Homem com todas as nefastas consequências daí advenientes.

E os sinais desse afastamento de Deus tornam-se visíveis através de muitos e dramáticos acontecimentos.

O direito à vida, posto em causa com a erupção generalizada de políticas promotoras e fomentadoras do aborto em vários países, contribuindo para o “inverno demográfico” cada vez mais sentido nos países europeus, com particular destaque para Portugal, já com mais óbitos do que nascimentos, constitui um desses sinais que assinalam de forma evidente o caminho para o declínio europeu.
Também a vergonha desumana do abandono dos refugiados do Norte de África, que fogem à fome e à guerra e todos os dias tentam desesperadamente chegar à Europa (Lampedusa), ficando muito deles sepultados nesse grande cemitério que é o Mar Mediterrânio, constitui um claro e revoltante sinal do declínio europeu.

Como é possível um continente tão rico, com tanto território e com cada vez menos população se recuse a receber gente pacífica que apenas pretende fugir da morte quase certa nas suas terras?
Se nas políticas europeias não houvesse esse afastamento de Deus, já há muito que este drama quotidiano teria merecido outra atenção e estaria, seguramente, em parte solucionado.


"Senhor quando que foi que Te vimos com fome e Te demos de comer ou com sede e Te demos de beber? Quando Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? … E o Senhor respondeu-lhes: Em verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o mesmo o fizestes".


Retirado de http://www.guimaraesdigital.com/edicoes/6848

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