Mário Centeno apertou a mão à austeridade e gostou.
Sorriu num esgar quase pueril feito de alegria incontida - é verdade, sou eu e
sou ministro - e deslumbramento. Obviamente que não teve em conta o significado
de tudo aquilo. Do outro lado da mão estava Jeroen Dijsselbloem, que para lá do
nome impronunciável, é presidente do Eurogrupo, cargo que acumula com o de
ministro das Finanças dos Países Baixos. Não será preciso muito esforço para
perceber que significa programaticamente tudo aquilo que o PS contestou em
campanha e jurou combater e alterar, se viesse a ser Governo. Mas Mário Centeno
sorriu.
Dúvidas houvesse, comentando as recentes eleições
legislativas, Dijsselbloem "felicitou Portugal pela conclusão bem-sucedida
do programa de ajustamento", instou "as autoridades a manterem os
seus esforços de implementação de reformas estruturais" e "advertiu
que continuam a existir obrigações, pelo que não se pode gastar o dinheiro que
não se tem".
Na esquerda.net, o BE reagiu denunciando o presidente
do Eurogrupo como "outra voz em defesa de mais austeridade para
Portugal", vendo "os resultados como boas notícias. A situação
portuguesa não mudou. Seja velho ou novo [o Governo] vai ter que lidar com os
mesmos problemas".
E o PCP soube confirmada a voz europeia da manutenção do "pacto de agressão".
Significa que entre as determinações europeias que se
mantiveram e os parceiros da coligação de faz-de-conta à Esquerda, novos amigos
do PS, Mário Centeno deixou cair PCP e BE. É assim, mesmo que Jerónimo de Sousa
e Catarina Martins façam de conta que não sabem. Só importa que PSD e CDS não
sejam Governo. E para isso valerá qualquer coisa, sapos incontáveis
atravessados nas gargantas da extrema-esquerda inteira, incluídos.
11 dias bastaram para que garantias absolutas do PS em
campanha, dados como argumentos a PCP e BE, passassem a delírios de outros
tempos. A voz forte de António Costa prometendo um Governo que defenda "na
Europa, com unhas e dentes, os direitos e as necessidades da economia
nacional" passou a miar baixinho. A sobretaxa e as portagens nas scut,
afinal são para manter.
Ponderadas as promessas do PS, o aperto de mão de
Mário Centeno a Jeroen Dijsselbloem, alinhando com os pressupostos da última
legislatura, teve o significado de um aperto de mão de Napoleão ao duque de
Wellington, em vésperas da Batalha de Waterloo.
A credibilidade de quem se quis firmar na coerência da
palavra dada e de qualquer réstia de pensamento, jaz agora defunta junto do
Terreiro do Paço.
Mas Mário Centeno sorri. Valha-nos isso.
Mas Mário Centeno sorri. Valha-nos isso.
Artigo de Nuno Melo, JN
0 comments
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.