O Sorriso de Centeno

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015


Mário Centeno apertou a mão à austeridade e gostou. Sorriu num esgar quase pueril feito de alegria incontida - é verdade, sou eu e sou ministro - e deslumbramento. Obviamente que não teve em conta o significado de tudo aquilo. Do outro lado da mão estava Jeroen Dijsselbloem, que para lá do nome impronunciável, é presidente do Eurogrupo, cargo que acumula com o de ministro das Finanças dos Países Baixos. Não será preciso muito esforço para perceber que significa programaticamente tudo aquilo que o PS contestou em campanha e jurou combater e alterar, se viesse a ser Governo. Mas Mário Centeno sorriu.

Dúvidas houvesse, comentando as recentes eleições legislativas, Dijsselbloem "felicitou Portugal pela conclusão bem-sucedida do programa de ajustamento", instou "as autoridades a manterem os seus esforços de implementação de reformas estruturais" e "advertiu que continuam a existir obrigações, pelo que não se pode gastar o dinheiro que não se tem".

Na esquerda.net, o BE reagiu denunciando o presidente do Eurogrupo como "outra voz em defesa de mais austeridade para Portugal", vendo "os resultados como boas notícias. A situação portuguesa não mudou. Seja velho ou novo [o Governo] vai ter que lidar com os mesmos problemas".

E o PCP soube confirmada a voz europeia da manutenção do "pacto de agressão".

Significa que entre as determinações europeias que se mantiveram e os parceiros da coligação de faz-de-conta à Esquerda, novos amigos do PS, Mário Centeno deixou cair PCP e BE. É assim, mesmo que Jerónimo de Sousa e Catarina Martins façam de conta que não sabem. Só importa que PSD e CDS não sejam Governo. E para isso valerá qualquer coisa, sapos incontáveis atravessados nas gargantas da extrema-esquerda inteira, incluídos.

11 dias bastaram para que garantias absolutas do PS em campanha, dados como argumentos a PCP e BE, passassem a delírios de outros tempos. A voz forte de António Costa prometendo um Governo que defenda "na Europa, com unhas e dentes, os direitos e as necessidades da economia nacional" passou a miar baixinho. A sobretaxa e as portagens nas scut, afinal são para manter.

Ponderadas as promessas do PS, o aperto de mão de Mário Centeno a Jeroen Dijsselbloem, alinhando com os pressupostos da última legislatura, teve o significado de um aperto de mão de Napoleão ao duque de Wellington, em vésperas da Batalha de Waterloo.

A credibilidade de quem se quis firmar na coerência da palavra dada e de qualquer réstia de pensamento, jaz agora defunta junto do Terreiro do Paço.

Mas Mário Centeno sorri. Valha-nos isso.

Artigo de Nuno Melo, JN

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